terça-feira, 16 de março de 2010

O BBB e os agentes emburrecedores

O Big Brother Brasil chega à sua décima edição, apresentando basicamente a mesma proposta de entretenimento – para o público e para os participantes –, e, concomitantemente, a "oposição", composta por intelectuais, letrados e hipercríticos, chega igualmente à décima edição, apresentando também os mesmos comentários a respeito do programa.

Como dois e dois são quatro, sei que o teste vale a pena. Suscite uma discussão, seja em uma conversa entre autotintitulados letrados, tipo a mesa de um bar composta por estudantes de ciências humanas quaisquer – de preferência de uma instituição federal, porque estes em sua maioria atendem perfeitamente ao estereótipo de estudante-de-esquerda-crítico-intelectual-antissistema-e-anticultura-de-massa – ou em algum site de jornal brasileiro, por exemplo. É acertado o surgimento de uma profusão de injúrias à Rede Globo, à televisão brasileira, à televisão aberta, à burrice e à falta de cultura do povo brasileiro... esses dois últimos, alvos de críticas que muitas vezes vêm disfarçadas por um eufemismo que confere poderes fascistas sobrenaturais às instituições televisivas e exime de todo e qualquer telespectador brasileiro o direito – arduamente conquistado, diga-se de passagem – da escolha e da autocensura deliberada.

Os motivos são sempre os mesmos: a população deveria ter direito a programas culturais e de conteúdo na televisão aberta; o Big Brother não passa de um programa com descerebrados cujos únicos atributos são peitos e bundas etc etc etc.

O que algumas pessoas esquecem, porém, é que há, sim, programas "culturais" (e, considerando-se "cultura" o conjunto de manifestações que caracterizam um grupo social, pergunto-me se o BBB, como afirmou Pedro Bial, não seria de tanta cultura quanto Guimarães Rosa, sendo este apenas canonizado pelo tempo e pela academia...) e de "conteúdo" na tevê aberta, que discorrem sobre cinema, política, educação. E que a Rede Globo não possui poderes paranormais de coagir o público: vide o fracasso de audiência de Capitu, microssérie com texto de Machado de Assis, com uma bela e incomum estética e com trilha sonora alternativa, exibida no mesmo horário em que o BBB se passa atualmente.

O grande problema não é assistir a programas insapientes, mas sim não possuir capacidade crítica pra discernir aquilo que deve daquilo que não deve ser deglutido. A novela das oito adquiriu o status de folhetim contemporâneo, que detém a atenção e a fidelidade de pessoas que buscam em uma trama elementos para que realizem a clássica catarse. O Big Brother Brasil tornou-se um laboratório humano, no qual pessoas – descerebradas em sua maioria, sim – em convivência extrema criam suas próprias tramas e definem uma linha de identificação com aqueles do outro lado. É ou não é uma catarse da massa?

Além do mais, esta última edição acabou por perder o caráter de entretenimento e tornou-se pauta para uma discussão de cunho social: por que a identificação com um monte de músculos que não domina a própria língua, é misógino, homofóbico e ignorante? A quem se almeja torcendo por ele?

Sim, eu assisto e voto. E, sinceramente, entre o céu e a terra existem mais agentes emburrecedores do que podem supor a nossas vãs filosofias...