Mas antes que tais lamúrias tornem-se por completo o assunto principal hoje (pois, já diziam os célebres Lanlan e Os Elaines, eu não agüento mais, é tanta chorumela...), manterei a mesma linha queixumeira, porém em outro âmbito.
Certa vez eu ouvi falar em um livro chamado Quem ama Literatura não estuda Literatura. O título me causou demasiado interesse e descobri que, na verdade, a crítica não se dirige exatamente aos estudos literários em si, mas à elitização na qual estão inseridos esses estudos. O autor, Joel Rufino, professor universitário e cascadurense de coração (alô alô Cascadura!), faz um apanhado histórico dos movimentos artísticos no Brasil do século passado, comparando os registros perdurantes – estudados e canonizados em meios acadêmicos – com as repercussões da época. Descobriu-se, então, que muitos outros fatos foram de maior impacto à sociedade na época e hoje não são sequer comentados.
Eu particularmente prefiro fazer uso do título do livro levando-o ao pé da letra, apenas. Porque estudar literatura, principalmente para quem a ama, é, realmente, muito chato...
Umberto Eco traçou dois perfis para pessoas leitoras. O primeiro grupo é de leitores-vítima: pessoas que lêem e, por motivos subjetivos, gostam – ou não, de uma determinada obra; o segundo grupo é o de leitores críticos: viventes que, ao lerem, fazem críticas mais embasadas, de cunho mais científico. Ao longo desta minha extensa vida que me torna quase uma anciã, percebi como muitas vezes o estudo de um objeto de arte sob a perspectiva teórica estraga toda a sua magia e faz com que a apreciação, que poderia proporcionar grande fruição e gozo (ui) de cunho estético, acabe por tornar-se uma análise fria e insensível. Então decidi por me enquadrar no grupo dos leitores-vítima, ou o que Carlos Reis também denominou como leitores-comuns. Encaro a obra literária fundamentalmente como objeto lúdico; relaciono-a com leituras antecedidas, enriqueço-me, e faço com que a obra por si me deixe muito feliz – ou não.
Estava já bastante contente com as constatações e a firmação de uma identidade que, antes, muito me afligia e, pra ficar ainda mais contente, descobri que existe, já há algum tempo, uma posição que defende a não-teorização da Literatura, mas apenas a sua fruição, “subjetiva e desinteressada de métodos e conceitos”. Uhuu! O nome dessa corrente antiteórica é impressionismo crítico. Uhuu!
Saí saltitando pelos corredores da PUC. Sou uma impressionista crítica, não gosto de teoria e o mundo me aceita...... quando, a atitude antiteórica dos impressionistas críticos, depois de mais de um século sendo estudada, desenvolvida e teorizada, tornou-se (adivinhem) uma construção teórica da porra toda.