sábado, 29 de março de 2008

Quem ama Literatura não estuda Literatura nem o Impressionismo Crítico

Antes de ir ao que interessa, eu preciso dizer o quão difícil é dar conta de todos esses afazeres os quais eu ultimamente tenho sido incumbida de realizar. Ser professora de ensino fundamental, estagiária em departamento de produção editorial, irmã participativa, namorada(-) presente, estudante de um sétimo semestre entediante, consultora da Natura, blogueira, guitarrista de uma banda neotropicalista imaginária e pensadora constante da morte-da-bezerra é uma adoção de atividades que me rendem, no mínimo, umas boas olheiras e resmungões que se tornam presentes em todo e qualquer e-mail, torpedo SMS, carta, telefonema, conversa de elevador ou post em blog que se possam imaginar.

Mas antes que tais lamúrias tornem-se por completo o assunto principal hoje (pois, já diziam os célebres Lanlan e Os Elaines, eu não agüento mais, é tanta chorumela...), manterei a mesma linha queixumeira, porém em outro âmbito.

Certa vez eu ouvi falar em um livro chamado Quem ama Literatura não estuda Literatura. O título me causou demasiado interesse e descobri que, na verdade, a crítica não se dirige exatamente aos estudos literários em si, mas à elitização na qual estão inseridos esses estudos. O autor, Joel Rufino, professor universitário e cascadurense de coração (alô alô Cascadura!), faz um apanhado histórico dos movimentos artísticos no Brasil do século passado, comparando os registros perdurantes – estudados e canonizados em meios acadêmicos – com as repercussões da época. Descobriu-se, então, que muitos outros fatos foram de maior impacto à sociedade na época e hoje não são sequer comentados.

Eu particularmente prefiro fazer uso do título do livro levando-o ao pé da letra, apenas. Porque estudar literatura, principalmente para quem a ama, é, realmente, muito chato...

Umberto Eco traçou dois perfis para pessoas leitoras. O primeiro grupo é de leitores-vítima: pessoas que lêem e, por motivos subjetivos, gostam – ou não, de uma determinada obra; o segundo grupo é o de leitores críticos: viventes que, ao lerem, fazem críticas mais embasadas, de cunho mais científico. Ao longo desta minha extensa vida que me torna quase uma anciã, percebi como muitas vezes o estudo de um objeto de arte sob a perspectiva teórica estraga toda a sua magia e faz com que a apreciação, que poderia proporcionar grande fruição e gozo (ui) de cunho estético, acabe por tornar-se uma análise fria e insensível. Então decidi por me enquadrar no grupo dos leitores-vítima, ou o que Carlos Reis também denominou como leitores-comuns. Encaro a obra literária fundamentalmente como objeto lúdico; relaciono-a com leituras antecedidas, enriqueço-me, e faço com que a obra por si me deixe muito feliz – ou não.

Estava já bastante contente com as constatações e a firmação de uma identidade que, antes, muito me afligia e, pra ficar ainda mais contente, descobri que existe, já há algum tempo, uma posição que defende a não-teorização da Literatura, mas apenas a sua fruição, “subjetiva e desinteressada de métodos e conceitos”. Uhuu! O nome dessa corrente antiteórica é impressionismo crítico. Uhuu!

Saí saltitando pelos corredores da PUC. Sou uma impressionista crítica, não gosto de teoria e o mundo me aceita...... quando, a atitude antiteórica dos impressionistas críticos, depois de mais de um século sendo estudada, desenvolvida e teorizada, tornou-se (adivinhem) uma construção teórica da porra toda.

3 comentários:

laism disse...

Lellinha, é incrível a nossa sintonia mental! Há alguns dias, conversando com um amigo meu que faz cinema, eu falava exatamente sobre isso. Não tão bem quanto você mas, em essência, era isso hahaha.

Unknown disse...

huahuahuauhauhauhhua...
ai, guria, cada vez que eu 'te leio' eu fico mais tua fã!
deimais!
muahh!!

Daval disse...

OI LELLA, SINTRO FRUSTRÁ-LA, MAS TER UMA TEORIA QUE VALORIZA O NÃO-TEORIZAR É TEORIZAR DEMAIS PRA MIM...
O IMPRESSINISMO CRÍTICO É MUITO PARADOXAL.

MAS EU ESTOU COM VC!